Caixinha de Música

sábado, 23 de outubro de 2010

Interstícios com Leitores

        

Reli O LIVRO DAS IGNORÃNÇAS, de Manoel de Barros. Estava precisando mergulhar na "verdez primal" dessa enchente do Pantanal. Precisava olhar aquele nosso rio, aquele que "fazia uma volta atrás de nossa casa", que "era a imagem de um vidro mole". Queria achatar o nariz na janela rabiscada de chuviscos e ficar de bobeira, olhando a imagem escorrer lindamente, como aquarela líquida, derramada no tabuleiro.

 Vivi tantos anos nas últimas semanas que "O ocaso me ampliou para formiga". Então, resgatei esse livro: "Preciso do desperdício das palavras para conter-me". Precisamos ficar renascendo, todo dia, para sobreviver. Renascendo de outro jeito, vivendo lagarta, escutando rã,  violetando, correndo rio, andando nuvens, sonhando árvore.

 Esse é um livro que não pode ser comentado: tem de ser vivido, saboreado, degustado. É um livro que, tal o "rio de vidro mole", penetra e completa os nossos vazios e arrebenta as algemas da nossa independência. É um livro camaleão: muda de cor, muda de forma, muda de tom, muda a alma inquieta da gente. É sempre outro. Não deixem de ler!

 

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