Caixinha de Música

domingo, 24 de outubro de 2010

Nova ágora

         Pretendo que este blog seja a ágora citada pelo Pe.Fábio de Melo, um lugar de troca de ideias. Por isso gosto de comentar os livros que leio, os pensamentos que me ocorrem, os textos que alinhavo, os sonhos que acalento.

          O livro Cartas entre amigos – sobre ganhar e perder, de Gabriel Chalita e Pe. Fábio de Melo, é um diálogo no gênero epistolar. São 18 cartas, dezoito olhares respeitosos e esperançosos sobre o mundo e sobre a condição humana. Memória e arte se entrecruzam, repetindo a técnica das mulheres que tecem colchas de retalhos... Escolhem os retalhos, separam-nos e vão costurando: retalho triste junto a retalho alegre, retalho forte junte a retalho frágil, retalho novo junto a retalho velho, sempre nessa técnica de contraposição. "A nota triste é utilizada para preparar a chegada da alegria" e assim vai-se formando essa arte a duas mãos, costurando as tramas do dia a dia com alinhavos de filosofia e pespontos da literatura.

        As mulheres vão costurando os retalhos: Maria Luiza, a catadora de lixo, mãe de Alcides, que sonhou um sonho bonito para o seu filho, para que ele fosse um homem de futuro, mas o retalho de Alcides se rompeu, por engano. Aos 22 anos o sonho acabou ao som de uma bala perdida. Flordelis, poesia no nome, beleza na vida... Para ela, "Basta uma palavra para mudar tudo".  Zilda Arns, a amiga da humanidade. As Severina e as Sinhá Vitória e sua força simbólica da palavra dita e do silêncio delicado. E sempre o sonho permeando o bordado. O sonho de uma cama, de Sinhá Vitória, o desejo de permanência; uma deseja que o filho "fosse bom", um sonho de essência; a outra catava lixo para que o filho "fosse um homem de futuro", um sonho de esperança.

          De toda a leitura ficam várias certezas. Precisamos mais que nunca resgatar a tradição de uma tribo da África Central: compor uma música para cada criança que nasce, a trilha sonora de cada existência. Esse canto precisa ser ressuscitado, nesses tempos de tantos descaminhos e maiores desencantos. Precisamos instaurar um "tempo de delicadezas" maternas, aprendendo com dona Augusta e dona Ana, que inspiraram esses dois escritores, com esperança e fé. Porque, amigas leitoras, "O importante é não desistir: há sempre um pavio esperando pela luz."

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